quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

A escrita de Inoue


Samurai contemplando
A muito tempo atrás, ainda em Salvador (BA), no Brasil, quando eu ainda estava no gau iniciante da pratica marcial, especialmente nos intervalos das aulas que eu ajudava meu sensei, lembro-me de regularmente ver um dos seus hospedes na varanda do dojo escrevendo. Era um imigrante japones chamado Inoue que treinava judo conosco. Ele morava num dos comodos do dojo e todos os dias em torno das 17h, após fazer as tarefas que lhe eram competência, ele ficava na varanda de cima numa cadeira, escrevendo num caderninho.

Ele falava pouco portugues, mas todas as vezes que eu me sentava perto dele pra tomar um vento, ele parava de fazer o que estava fazendo, sorria e ficava aguardando eu inicar uma conversa. No inicio eu não sabia por que ele fazia isso, depois eu fui entendendo que se tratava de uma questão de respeito. E que embora ele estivesse anteriormente numa tarefa, o fato deu estar ali, fazia com que ele priorizasse minha companhia.

As vezes eu tirava duvidas sobre golpes, perguntava como ele fazia harai-goshi e uchi-mata, as vezes não falava nada. Haviam dias que eu pedia que ele falasse o que estava escrevendo e sobretudo nesse momento em especial, minha mente era transportada para lugares fantasticos. Não distantes da realidade, apenas a partir de uma ótica simplista, que verdadeiramente enxergava o valor das coisas, simplesmente como elas são.

Foi a partir deste encontro que eu passei a desenvolver o habito de escrever, sobretudo as 17h, quando eu passei a fazer exatamente o que ele fazia. Paro o que estou fazendo e me sento em frente a uma janela ou uma paisagem bonita, pego a caneta o papel e começo a escrever. Partilhando livremente o que experimentei na vida, trazendo pra vocês coisas que me edificam e que eu acredito que também possam edificar vocês, aproximando-os cada vez mais do código e consequentemente de uma vida pacifica e serena.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

O destino que o samurai da a todas as coisas


Samurai refletindo sobre o destino
É como li uma vez num dos meus estudos sobre o aikido, quando o autor disse que o guerreiro deve se portar no combate, como alguem que lida com o que lhe é dado destinando o que lhe veio a um fim pacifico. Como quando lhe é despejado sobre o colo uma mochila de problemas e serenamente você abre, examina e direciona cada um daqueles conflitos a um fim proveitoso.


A vida exige isso do lutador, digo isso fora do tatame, porque não da pra agir com a impetuosidade da disputa fisica diante das cirunstâncias existenciais. Ao meu ver são raros os momentos em que você pode agir assim, especialmente em se tratando de ocasiões que você precisa agir proativamente, como quando alguem esta em apuros e você tem que ter uma atitude que preserve aquela vida.

Hoje o que eu vejo é que o exercício da suavidade aperfeicoa a serenidade do lutador, porque é justamente durante a trajetória, que ele administra suas emoções e raciocina com clareza, o que é algo profundamente dificil, porque todos nós somos humanos e nem o lutador mais treinado consegue ter dominio sobre todas as suas emoções. Os mais antigos professores até dizem que a chave mestra pra compreensão dessas coisas esta justamente na maneira que você reconhece e se porta perante a sensação, fruto da emoção. Porque o domínio, em si, é limitante e o caminho é justamente a destinação.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

As sete horas de determinação de Yamamoto

Yamamoto em reflexao (imagem ilustrativa)

Segundo Yoshida foram quase sete horas seguidas em que Yamamoto ficou segurando a espada e praticando sequências de corte. Um feito notavel, ninguém havia se disposto a tal coisa, alguns até acreditavam que fosse loucura da parte dele, mas seu mestre sabia que isso lhe faria bem. É como todo desafio, as pessoas que estão de fora acham que é loucura, projetam sua ideia de incapacidade através de palavras para depreciar o outro, na tentativa de ve-lo falhando.

Mas essa foi uma demonstração clara de determinação e compartilho isso contigo para você ver o quão longe sua determinação pode te levar. Yamamoto ficou sozinho, praticando, cansado, teve duvidas varias vezes, sentiu medo, sentiu fome, mas o tempo todo ele conseguio lidar com essas sensações, sem perder o controle. Ele até relata que varias vezes pensou no que as pessoas disseram sobre ele, mas ele dizia que ele precisava fazer aquilo, ele dizia que ele sabia que iria conseguir, por mais dificil que fosse, ele acreditava que era capaz e por isso foi até o final.

Tenho notado que hoje é quase incomum ver uma pessoa determinada como Yamamoto, digo isso porque o objetivo dele era superar a si mesmo, o que muitas vezes não é o suficiente para que as pesssoas permaneçam focadas na tarefas que estão realizando, até conseguirem chegar onde desejam. Vejo que muitas pessoas fazem oque fazem por motivos externos a si, que não deixam de ser de valor, como quando alguem se sacrifica em prol de sua família. Só que no Budo, no caminho marcial, você descobre que além das responsabilidades que lhe motivam você deve encontrar dentro de si mesmo o agente motivacional do seu desenvolvimento, porque essa responsabilidade é sua e é justamente isso que lhe torna admiravel aos seus própros olhos.

Yamamoto foi para as montanhas, ele esteve entre arvores submetendo seu corpo além do que ele já havia suportado. Ele não fez isso por conta dos holofotes do podium ou pelos aplausos das arquibancadas. Ele fez o que fez porque tinha um compromisso consigo mesmo. E como você acha que ele retornou dessa experiencia; Pois é! Muito mais forte dentro de si mesmo. Ciente de que esse foi um degrau importante na sua trajetória como samurai, satisfeito por ter suportado, experiente nos ensinamentos que recebeu no dojo porque verdadeiramente pôs em pratica, alegre por ter tido sucesso, feliz meus discipulos, feliz consigo mesmo. Experimente se tornar quem você deseja, empenhe-se em conquistar seu objetivo, de o passo, tome a atitude.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Antes que eu lhe corte a cabeça

Samurai segurando uma cabeça fruto de um corte reto

É sobretudo uma questão de técnica, a forma que o samurai empunha a espada para deferir o corte, bem como a maneira que você emprega suas palavras. Haviam guerreiros que adotavam uma postura tradicional e executavam movimentos de corte reto, como também haviam guerreiros que executavam movimentos fora dos padrões tradicionais, mas que também cumpriam sua finalidade. O mesmo se ve hoje em dia, segundo a corrente que diz ser a palavra, o que figura a espada do samurai moderno.

Eu vejo no dia a dia, como nas circunstâncias mais comuns, ainda falta o traquejo de grande parte da pessoas que não conhecem o código, no emprego das palavra em circunstâncias simples. Bem como a poucos instantes, quando eu estava sendo atendido numa casa de cambio e o rapaz que me antendeu empregava um tom de deboche e um olhar de descaso, enquanto fingia estar me atendendo. Embora a maneira que ele estivesse se portando, fosse uma afronta a minha dignidade, não deixei que esse destrato me ferisse e me mantive formalmente coerente ao código obedecendo a quarta tradição; polidez.

Durante todo o dialogo fiz perguntas diretas, usei poucas palavras e conservei meu semblante sereno de acordo com a ordem natural, como todo movimento de corte reto que basicamente é um golpe simples e claro, mas que devido a pratica torna-se dificil de ser defendido. E conforme eu ia empregando as palavras, preservando minha postura, fui observando como ele estava sendo envolto naquela nevoa de confusão, podendo facilmente ser abatido por um golpe até que no momento final da nossa conversa, quando ele se posicionou de forma mais incisiva, testando meu poder de compra, eu então me posicionei sendo menor, obedecendo a terceira tradição; a benevolencia.

E com um corte reto, usando apenas a palavra obrigado encerrei nosso encontro, não comprando em sua loja, mas dando a ele o presente de ter conhecido alguem que jamais ele se esquecerá. Talvez nos encontremos no futuro numa outra circunstância, onde mais uma vez eu possa ser benevolo e mesmo que ele tente me ferir eu lhe mostre principios que lhe façam refletir. Espero apenas que não seja uma circunstância onde seja mais facilmente percebida por ele minha condiçao financeira, para que ele nao se sinta constrangido, não quero que o exame de sua postura nesse episódio lhe provoque esse desconforto, mas como um cliente talvez, neste mesmo ambiente, desejo que não nos encontremos mais, por uma questão de honra, para que não me seja necessário cortar sua cabeça apenas por uma questão de honra.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Como surgem os conflitos

Samurais em conflito fisico e mental

O ceu tende a subir e a agua tende, por sua natureza, a descer. O movimento dos dois componentes básicos é divergente, mostrando através da própria natureza a ideia de conflito. O conflito surge quado alguém julga estar certo mas encontra oposição sem a convicção de estar certo, a oposição conduz à astucia ou a um abuso violento, mas não conflito aberto.

Quando se esta envolvido num conflito a única salvação está numa lúcida e firme prudência, disposta a buscar conciliação indo ao encontro do oponente a meio caminho. Conduzir a luta até seu amargo fim é nefasto, mesmo quando se tem razão, porque através dessa atitude se perpetua a inimizade. É importante ir ver o grande homem, isto é, um homem imparcial cuja autoridade seja suficiente para solucionar o conflito pacificamente ou garantir uma decisão justa. Por outro lado deve-se evitar “atravessar a grande agua” em época de discordia, isto é, começar empreendimentos perigosos, pois estes só teriam sucesso caso houvesse uma união de forças. O conflito interno enfraquece, impedindo assim a vitória sobre o perigo externo.

As causas de um conflito encontram-se latentes nas tendências opostas dos dois triagamas por isso que quando essas tendências divergentes aparecem o conflito torna-se inevitavel. Assim, para que possa evita-lo, tudo deve ser cuidadosamente considerado desde o inicio. Se os direitos e deveres são definidos com precisão ou se num grupo as orientações espirituais convergem, a causa do conflito fica, de antemão, eliminada.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Um relato de Kurama Fujita

Samurais reunidos

“Não da pra esconder o mal caratismo de Sakato, é nitido, esta evidente em toda arquitetura de suas ações. Há também uma forte ligação de natureza sexual subserviente entre ele e Yoko. E também da pra ver como ela manipula a mente dele. Me parece que a ingnorante ingenuidade dele se deixa levar pelas fabula e pelos contos que docemente, Yoko, envolve e envenena a mente de Sakato.  O mais interessante disso tudo é como eles se portam perante Tetuzan, dissimuladamente amistosos, falsamente bondosos, exindo respeito por acreditarem que merecem, silenciosamente alegando o fato de serem cidadãos do império. Shitaro me disse que havia escutado eles arquitetando planos para derrubar Tetuzan e tentando seduzir Yamamoto, a diferença é que Yamamoto é fiel ao código e por mais que a ganância lhe salte os olhos, ele não consegue suportar o conflito interno de trair quem lhe estende a mão. Enquanto isso eu continuo observando seus passos, sem dizer nada a Tetuzan, que sabiamente finge não saber de nada. Mas no fundo ele sabe de tudo, conheço meu senhor. Afinal, antes de sermos samurais ele já era.” Kurama Fujita

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Dez anos nas sombras da existencia

Ryu Yoshida dominando animais na montanha

Passaram-se quase dez anos desde o dia em que Ryu Yoshida havia saido de casa e o dia em que ele retornou para seu lar. Ryu havia sido convocado para um treinamento nas monhtanhas com mais outros dois guerreiros Iori e Sayuri com a finalidade de aperfeiçoar sua coragem e sua disciplina. Havia uma série de tarefas diárias que serviam para testar a resistência destes guerreiros que iam desde percorrer longas distâncias a pé, alimentar-se apenas do que pudesse ser extraido da natureza até ter qe enfrentar animais selavagens no combate corpo a corpo.

Como de costume, os guerreiros documentavam suas viagens e segundo o que consta nos cadernos de Ryu, os primeiros meses foram duros. Eles dormiam em pessimas condições, haviam mosquitos por todos os lados, alguns dias eles nem sequer comiam, muitas vezes passavam dias molhados e seu corpo começou apresentar assaduras por toda parte, o que dificultava seu deslocamento nas trilhas.

Sayuri que detalhava mais sua experiencia, conta como no segundo e no terceiro ano os dois rapazes se fecharam em si mesmo. Eles nem sequer conversavam, comunicavam-se apenas por gestos e raros foram os momentos em que eles deram risada. E num trecho em especial ela diz: “sinto-me o tempo todo sozinha, embora esteja acompanhada e fortemente protegida. Suas bocas estão seladas, da pra ver seus maxilares imóveis e suas arcadas dentárias firmemente conectadas, pressionando-se. Não consigo saber o que eles pensam, me parece que eles se fecharam pro mundo e mergulharam no vazio. Eles nem sequer olham pra mim...”

Iori relata que em certo periodo do treinamento, mais ou menos entre o segundo e o terceiro ano, Ryu entrou num processo reflexivo muito forte e após auxilia-los nas tarefas diarias de sobrevivência, ele acomodava-se debaixo de uma arvore e passava muitas horas seguidas olhando pro nada. As vezes desciam lagrimas dos seus olhos e as vezes não. O mais interessante de tudo isso é que após esse período ele começava a escrever. Iori dizia que ele escrevia initerruptamente, paginas e paginas, parecia ter muito a dizer.

Após retornar pra casa, depois de rever sua esposa e filho, na cerimonia de reconhecimento ele pôde ler parte de sua obra e perante os demais irmãos ele disse muitas coisas, dentre elas as seguintes palavras: “Estou certo de que é necessário passar por tudo que estamos passando, sinto dores, medo, tenho dúvidas e meus pensamentos me confundem durante grande parte do dia. Passo a maior parte do tempo calado, com receio de dizer algo que atrapalhe a experiência dos meus colegas. E dedicando-me ao silêncio, aprendi o poder das palavras. Todos os dias sento-me debaixo de uma arvore e lembro-me da companhia das pessoas que eu amo. Lembro-me também dos dias em que ouvia Sayuri cantar e nesses momentos eu choro. Queria demonstrar meu carinho, conversar com meus amigos que aqui estão, mas entendo que é necessário permanecer resignado. Trata-se da mesma sensação que eu tenho quando estou de serviço e vejo uma injustiça. Meu coração se rasga por dentro, mas tenho que permanecer calado. Estou aprendendo a controlar minhas emoções, estou aprendendo a sintetizar o que tenho a dizer, estou aprendendo a perceber mais que enxergar e sobretudo aprendendo a agradecer, muito mais que reclamar.”

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

O samurai sábio se esvazia mais não se encolhe, move-se sem transbordar

Samurai num processo de esvaziar-se e nao se encolher, observe pela postura da cabeça inclinada numa clara introspecção.

O samurai sábio se esvazia mais não se encolhe, esse é o principio da sabedoria no exercício da virtude da humildade. Quem não compreende isso ainda está engatinhando no caminho. O código é um desafio, parece simples, mas é complexo justamente por conta dos desdobramentos no processo interpretativo.

Esvaziar-se significa por-se na condição de servo, a base do comportamento do samurai. É a partir dai que vem o passo seguinte: mover-se sem transbordar. Porque quando você se posiciona como servo, naturalmente você já está esvaziando-se de todos os conceitos e ideias que poderiam lhe colocar num pedestal de soberba.

É como quando um sensei, alguem que é faixa preta vai treinar com um dohai, um aluno iniciante e faixa branca. Ele cede pra poder haver aprendizado, ele se põe na condição de menor pra que haja a troca, porque ele não só esta transmitindo informação, ele também está recebendo informação.

Essa troca de informações na plataforma de humildade que é justamente o conceito de mover-se sem transbordar. Porque mesmo que o sensei receba um golpe, sofra uma finalização, ou uma queda, ele não está sendo ferido moralmente. Isso só acontece se ele se posicionar como menor. Sem precisar abstrair seu valor próprio, não, isso ele sabe. Apenas esvaziando-se sem se encolher.

O guerreiro que confunde isso sofre um conflito quando precisa ser humilde porque ao invés de se esvaziar ele se encolhe e ninguém consegue ficar curvado, interiormente, por muito tempo. O ser humano nasceu para ser liberto, essa condição de humildade é um estado de consciencia que abre a porta pra troca de informação, sem subversão da identidade do individuo. Guarde essas palavras meu caro amigo; o samurai sábio esvazia-se mas não se encolhe, move-se sem transbordar. É o código, o Bushido, back to the roots...back to the roots...

domingo, 12 de janeiro de 2020

O corte silencioso e o espelho da lamina

Samurai deferindo o corte silencioso

Alguns samurais chamam de corte silencioso, outros chamam de espelho da lamina. O nome pode diferir mas o significado é o aspecto mais intrigante desta técnica. Basicamente consiste numa habilidade de deferir um golpe, sem que seu adversário perceba a ação sendo executada. Tanto pode ser por conta da velocidade do movimento como também pelo angulo que você o realiza. No primeiro caso atribui-se o nome de corte silencioso, por se tratar de um movimento tão rapido que o oponente nem sequer flagra o ruido do golpe.

Geralmente são ataques destinados as costas da mão, porque o proposito não é ceifar a vida e sim neutralizar as possibilidades do oponente combater. Veja que se trata de uma maneira altamente complexa de vencer seu adversário, não estou falando de uma técnica simples, estou falando de uma técnica que além da vitória, lhe possibilita vencer respeitando a quinta tradição; jin; que significa compaixão e benevolência.

Takashi Oda conhecido por ser um ronin cego, comumente era ignorado quando desafiava um samurai para um duelo. Entretanto, quando combatia, vencia seus adversários usando a técnica de corte silencioso e sem precisar cortar a cabeça dos seus oponentes, abandonava-os em campo de batalha, em completo estado de perplexidade, diante do feito que ele realizara. Nenhum dos seus adversários, dos quais desconheciam sua fama, imaginavam que um homem cego fosse capaz de lhes cortar as mãos, de modo que jamais eles pudessem voltar a segurar uma espada.

O espelho da lamina, uma pequena variação do corte silencioso, se tratava também de um golpe muito veloz, mas sua principal característica era o angulo de ação do corte que se dava justamente de maneira que a vitima não enxergasse o que estava acontecendo. Geralmente acontecia quando os samurais executavam uma técnica de tai-sabaki (deslocamento), em circulo e durante a trajetória a lamina decepava os dedos do adversário. O ponto chave dessa técnica, segundo os mais experiêntes, se dava através da observação do estado de conservação da tsuba(um disco de ferro, que ficava na base da lamina e servia para proteger as mãos).

Ambas as técnicas são de alta complexidade, embasadas no compromisso moral dos samurais e de grande valor para o estudo do samurai moderno. Hoje ensino ambas as técnicas para lutadores como estratégia de raciocínio para o combate corpo a corpo. Para que eles utilizem esses conceitos durante o combate esportivo e vençam seus adversários, sem que seja necessário agir de forma cruel.

A tranquilidade do samurai está em meio as intempéres

Samurai esperando

Em meio ao turbilhão de coisas que acontecem no combate, existem iatos, pequenos espaços de tempo de tranquilidade onde o guerreiro se sente relativamente bem. E se ele possuir força interior, aproveitará a pausa para se fortalecer para o proximo combate. Sem se deixar dominar pelo medo ou pela incerteza do futuro. Estes mesmos momentos acontecem na vida e são a chave para as maravilhas. Aproveitar esses pequenos momentos de tranquilidade faz muito bem as pessoas. Pois a vida de ninguém é 100% estável, todos nós sofremos oscilações, de humor, de saúde, no relacionamento, na vida financeira, em tudo. E entender que as oscilações fazem parte da vida mas que não tiram seu brilho é despertar o estado de consciência que o samurai deve cultivar dentro de si.

O samurai compreende que as tribulações não são obstáculos, são alterações no percurso. E que embora o percurso sofra alterações, você nunca sairá do caminho, porque o caminho está dentro de você, enraizado, em cada parte do seu cérebro, em cada comunicação sinaptica, em cada terminação nervosa que se estende pelo seu corpo, em cada pulsação cardiaca. Porque o caminho é o próprio código. A porta para as maravilha se abre quando você se permite desfrutar da tranquilidade destes pequenos momentos, onde você pode verificar a alegria do trabalho que já foi construído, até que você chegue ao término da tarefa. O samurai sábio alcança os frutos e sabendo cessar, não ousa conquistar com força. É necessário reprimir a arrogância, porque no ápice da rigidez, as coisas definham.

Existem guerreiros que reclamam o tempo todo, enxergam o sofrimento e so veem a dor da existência. Aprisionam-se no circulo das sombras e permitem que seus olhos sejam entenebrecidos, só enxergando a angustia de não ter o que querem. Veja, desta maneira é impossível conquistar qualquer tipo de estado de serenidade, porque não se trata de uma busca por estabilidade, o caminho é equilibrar-se em meio a volatilidade. Como um equilibrista que transitando sobre um fita elastica, ainda que sofra ação do vento no sentindo do seu desequilibrio, ele entende que o vento faz parte da natureza e sua ação não é má, muito pelo contrário, o vento lhe possibilita parar e reorganizar-se na fita, as vezes até ter aquele milesimo de segundo para contemplar até onde ele já chegou na sua trajetória, enquanto ele se equilibra e segue. Mas observe que o momento em que ele se equilibra e percebe que não cai, ele então se alegra. É justamente sobre esse ponto que estamos tratando, o fruto da espera, a tranquilidade, em meio a todas as dificuldades e dilemas existenciais.

Tudo isso eu escrevo, com o objetivo de simplificar para você, caro discipulo, leitor, algo de grande valia e que você conhece mas tem aprendido a utilizar conscientemente. Veja, as vezes o perigo está longe, mas as vezes ele está perto e de ambos os modos sua intuição lhe comunica. As vezes você da atenção e as vezes não, e quanto mais você fica envolvido com as angustias existenciais, seu problemas, suas aflições, a voz que lhe chama atenção ecoa cada vez mais fraco dentro de você. E quando o perigo se aproxima, o fato de você não enxerga-lo prejudica todas as suas relações porque isso lhe stressa e nessa época cresce facilmente uma intranquilidade geral. Você acaba culpando outras pessoas por seus erros e desanda o fluxo natural da sua própria vida. Uma situação tão desfavorável atrai os inimigos do exterior, que naturalmente aproveitam-se disso.

É por isso que é tão importante aproveitar os pequenos momentos de tranquilidade, pois são nesses momentos que você consegue se alegrar e na alegria é que nasce a serenidade. E na serenidade habita a sabedoria para que sejam tomadas suas decisões. Guarde esse ensinamento guerreiro, escrevo com amor. Desejo que você seja vitorioso se o seu propósito for o bem comum, paz.

sábado, 11 de janeiro de 2020

A diversidade das habilidades de combate e a criatividade samurai


Treinamento sozinho
A criatividade dos samurais foi uma das habilidades que perpetuou o feito desta classe. Porque eles se empenharam em desenvolver técnicas de corte reverso, semi-circulares e golpes combinados, que fugiam dos padrões tradicionais de luta. Eles eram homens dedicados ao treinamento diário, evitavam confusões e estavam constantemente vivendo em paz cada momento da sua vida.

Entretanto, atualmente, tenho visto muitos guerreiros que praticam artes marciais sendo formatados técnicamente. Sendo ensinados a não criar novos glpes e não explorar sua criatividade marcial. Os instrutores alegam que os alunos não devem inventar, não devem fazer golpes novos, misturar sistemas de luta porque eles acreditam que essas pessoas não são capazes de discernir os padrões técnicos de um sistema de combate.

Eu até concordo com parte desse raciocínio, mas não apoio a castração da inventividade do aluno. O samurai moderno deve olhar para o passado, porque o passado tem muito a nos ensinar. E de acordo com a tradição dos guerreiros antigos, é fundamental que o samurai moderno dedique um periodo à chamada pratica livre. Pois é na pratica livre que ele experimenta, tenta, elabora e cria.

Quando se trata de um guerreiro que treina suas habilidades marciais com a finalidade profissionalmente esportiva, o que ele deve fazer é criar, mas antes de utilizar no combate no ambito esportivo, apresentar sua descoberta ao seu sensei, porque através de um dialogo, respeitando os padrões técnicos daquela modalidade, eles poderão aproveitar o que foi descoberto, as vezes fazendo adequações, ou apenas utilizando parte do movimento.

Todos os samurais tinham métodos secretos, cartas na manga, por isso eles se tornaram guerreiros mundialmente conhecidos. Porque pensavam diferente e agiam diferente. É isso que lhe torna diferenciado. Vou lhes contar um dos métodos secretos; antes de sair para uma missão importante os samurais molhavam a ponta dos dedos com saliva e passavam atrás dos lobulos das orelhas, respiravam profundamente, puxavam e rompiam um objeto com suas mãos. Talvez você não conhecesse essas técnicas, que inclusive podem lhe parecer estranhas. Mas para eles produzia um efeito positivo, como a sensação de alivio, quando estavam sob forte pressão e seu sangue aumentava a circulação, antes que sentissem dores de cabeça, eles molhavam os dedos e passavam nos lobulos das orelhas.

Se você acha que isso surgiu do nada, esqueça. Esses métodos foram criados, experimentados e transmitidos entre gerações. Conforme foram sendo transmitidos, novos também foram sendo criados, cada um com sua finalidade, provocando algum tipo de sensação aliviadora ou motivacional. E ao seu modo, cada guerreiro se preparava para batalha. Haviam samurais que antes de lutar fechavam as mãos e batiam sobre o proprio corpo, num ritimo leve e cadenciado, começando pelas pernas, subindo pelas coxas, quadris, abdomen, braços e com as palmas das mãos sobre os rostos. Estimulando o fluxo sanguíneo por entre o corpo e acionando o estado de alerta da mente Zanshin... veja são muitas técnicas...e elas não estão agrupadas numa formatação limitante. Embora o contexto do passado seja distinto do atual, não permita que isso restrinja sua forma de pensar, o treinamento vai além...

O samurai conhecendo o mundo

Samurai contemplando

O samurai é um guerreiro que planta o bem. Porque quem planta o bem não se desenraiza, não perverte o código. Quem abraça o bem não se extravia da missão. E todo samurai tem uma missão, de viver com honra e servir ao propósito do seu clã com dignidade. É por isso que os filhos e os netos de um samurai cultuam seus ancestrais, porque eles sentem orgulho dos seus antepassados.

Mas para plantar o bem o samurai deve ser uma pessoa cuidadosa, não pode ser alguem descuidado. Porque é no descuido que mora a fraqueza, o guerreiro que se descuida deixa brechas para todo tipo de mal, começando por si mesmo. O samurai que não se cuida adoece, o samurai que não cuida das suas finanças empobrece, o samurai que não cuida do seu intelecto se torna burro e permanece ignorante.


O samurai deve cuidar de si, porque cultivando a si mesmo sua virtude será verdadeira. Ele transmitirá conhecimentos de valor, verdadeiros e experimentados. Cultivando sua família, sua virtude será fecunda. Cultivando sua comunidade, sua virtude será duradoura. Cultivando o reino, sua virtude será venturosa. Cultivando o mundo, sua virtude será universal.

Portanto, o samurai deve contemplar os outros por meio de si mesmo, encontrando em si, o valor que deve ser atribuido ao outro. Isso se chama dignidade. O nobre samurai também deve contemplar as outras famílias, por meio da sua própria família. Contemplar outras comunidades por meio da sua própria comunidade. Contemplar os reinos através do seu reino. Porque através da contemplação o samurai descobre o valor das coisas e o significado de cada uma delas. Ele existe e se posiciona como ser e por meio dessa pratica ele conhece a vida.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O samurai inteligente se antecede

Samurai se antecedendo

A linguagem militar emprega os termos de “samurai sábio” e de “samurai ignorante”. Um samurai que esperou ter que enfrentar situações difíceis para aprender a sair dela não é sábio. Um samurai que se preocupa adiantadamente com todas as situações e soluções possíveis possui grande sabedoria; ele será portanto, capaz de fazer frente de maneira brilhante a todas as dificuldades, quando a ocasião se apresentar. Não importa o que ocorra, um samurai inteligente é aquele que se preocupa com todos os detalhes da ação, antes da hora.

Um samurai imprudente, ao contrário, nos dá a penosa impressão de arrastar-se em meio a uma grande confusão e seu êxito só provém de uma sorte extraordinária. Somente um samurai negligente não considera todas as eventualidades antes do momento da ação.

Como diz o provérbio: “O peixe não vive na águal clara”. São nas aguas mais profundas, onda as algas habitam que o samurai se desenvolve plenamente. É quando um homem vai além dos detalhes e não se preocupa com as queixas menores que ele é capaz de se manter sereno. A compreensão e o exercício desse princípio são essenciais para quem quer compreender o caráter do código.

Lembo-me de meu sensei dizendo sobre quando o senhor Mitsushige era apenas um menino e pediram-lhe para ler uma passagem de um livro do monge Kaion: ele chamou os meninos e os ascólitos para dizer-lhes: “Peço-lhes para aproximar-se e escutar. É muito dificil per quando não há quase ninguém para escutar.” O monge ficou impressionado e disse aos fieis: É com esse espírito que é preciso fazer todas as coisas”. Por isso que o samurai sábio não guarda para si suas experiências, ele as partilha.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Preparação para o treinamento marcial


Hidari-ai-hanmi
Antes de iniciar o treinamento com um parceiro, precisamos ter um conhecimento básico dos conceitos e da terminologia das artes marciais. Eis a seguir os fundamentos do treinamento das artes marciais, de acordo com tradições orientais. Nas artes marciais é preciso assumir o posicionamento correto, do ponto de vista físico, mental e espiritual pois quando enfrentamos um oponente, devemos assumir uma atitude defensiva, adontando uma postura oblíqua.

Uma postura oblíqua, de meio corpo, chama-se hanmi e pode ser feita de duas formas. Quando seu pé esquerdo está à frente, isso é chamado hidari-hanmi, porque esquerda significa hidari. E quando seu pé direito está à frente isso é chamado de migi-hanmi. Entretanto, quando o tori, que é o lutador que executa a técnica está com o pé direito a frente e o uke, que é o lutador que executa a defesa, está com o pé esquerdo a frente chamamos isso de migi-gyaku que significa direita reversa e no caso oposto chamamos de hidari-gyaku hanmi. E quando ambos os lutadores tem o mesmo pé a frente chamamos de migi-ai (direito igual) hanmi e hidari-ai (esquerdo igual) hanmi.

Posicionamento com espadas

É a partir dessa simples organização das pernas que surgem todas as demais variações de técnicas de base. Pois uma vez que você esteja posicionado de lado a área do seu corpo diminui e consequentemente seu oponente terá mais dificuldade para lhe acertar. Além disso você tem a possibilidade de esquivar dos golpes dele e aplicar alavancas para derruba-lo ou imobiliza-lo. Tudo depende de quais oportunidades surgirão a você e como você administra demais questões como o distanciamento entre os corpos e o campo de visão.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

As tradições nunca se perderão


As tradições jamais se perderão no tempo e é por isso que eu escrevo, compartilho aqui a filosofia marcial e ajudo você a encontrar o caminho do guerreiro. Infelizmente, os homens se seduzem pelos prazeres da vida e vivem dia após dia, conquista após conquista, com a sede insaciavel de querer mais. Não falo sobre uma sede saúdavel de desenvolvimento, mas uma sede de consumismo.

Essa carência que nunca é suprida é sinal de uma falha grave no seu treinamento. Tudo isso por conta da má compreensão da relação entre professor e aluno. Porque aqui no ocidente, as pessoas entendem que o fato de pagar uma mensalidade, lhes da o direito de receber o ensinamento, como se a aula fosse um serviço comercializado, sendo que não é.

Budo é o caminho do guerreiro, o conjunto de artes marciais e filosofia marcial, que norteia o guerreiro de forma honrosa na sua trajetória em vida. Ensinar o Budo é uma vocação, sagrada, que confirma-se no sensei, sem que ninguém lhe diga. Ele mesmo escuta uma voz na sua interioridade que lhe diz que aquele é o seu caminho, por isso que ele faz com amor, independentemente do dinheiro e do reconhecimento.

Embora o aluno saiba disso e ao longo da sua jornada de convivio com seu professor ele va demonstrando seu respeito e sua reverência, o apego ao dinheiro faz com que muitas vezes ele não ultrapasse uma das barreiras mais importantes que é o despreendimento dos desejos. Pois o desejo é a raiz da confusão, do sofrimento e do egoismo. É o desejo de vencer que cega o aprendizado na derrota do combate.

Muitos demoram a vida inteira para compreender isso, outros nunca compreendem, mas você pode compreender e mudar sua maneira de viver. Ainda existem pessoas que pagam sua mensalidade com mesquinharia, presas ao dinheiro, dando com uma mão, mas querendo pegar de volta com a outra. Pobres almas, ainda estão engatinhando na compreensão do caminho.