quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

A escrita de Inoue


Samurai contemplando
A muito tempo atrás, ainda em Salvador (BA), no Brasil, quando eu ainda estava no gau iniciante da pratica marcial, especialmente nos intervalos das aulas que eu ajudava meu sensei, lembro-me de regularmente ver um dos seus hospedes na varanda do dojo escrevendo. Era um imigrante japones chamado Inoue que treinava judo conosco. Ele morava num dos comodos do dojo e todos os dias em torno das 17h, após fazer as tarefas que lhe eram competência, ele ficava na varanda de cima numa cadeira, escrevendo num caderninho.

Ele falava pouco portugues, mas todas as vezes que eu me sentava perto dele pra tomar um vento, ele parava de fazer o que estava fazendo, sorria e ficava aguardando eu inicar uma conversa. No inicio eu não sabia por que ele fazia isso, depois eu fui entendendo que se tratava de uma questão de respeito. E que embora ele estivesse anteriormente numa tarefa, o fato deu estar ali, fazia com que ele priorizasse minha companhia.

As vezes eu tirava duvidas sobre golpes, perguntava como ele fazia harai-goshi e uchi-mata, as vezes não falava nada. Haviam dias que eu pedia que ele falasse o que estava escrevendo e sobretudo nesse momento em especial, minha mente era transportada para lugares fantasticos. Não distantes da realidade, apenas a partir de uma ótica simplista, que verdadeiramente enxergava o valor das coisas, simplesmente como elas são.

Foi a partir deste encontro que eu passei a desenvolver o habito de escrever, sobretudo as 17h, quando eu passei a fazer exatamente o que ele fazia. Paro o que estou fazendo e me sento em frente a uma janela ou uma paisagem bonita, pego a caneta o papel e começo a escrever. Partilhando livremente o que experimentei na vida, trazendo pra vocês coisas que me edificam e que eu acredito que também possam edificar vocês, aproximando-os cada vez mais do código e consequentemente de uma vida pacifica e serena.

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